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Não Sou uma Dessas, o livro da Lena Dunham

Não Sou uma Dessas, o livro da Lena Dunham

Postado por em jan 26, 2015 em Blog, Literatura, TV | 0 comentários

Não Sou Uma Dessas é a autobiografia de Lena Dunham, que é atriz, escritora, roteirista, diretora e produtora. Ela bateu cartão em todas essas funções no filme independente Tiny Furniture, em 2010, e atualmente na série da HBO Girls, que está em sua quarta temporada e é exibida pelo canal aqui de domingo para segunda-feira, às 0h. O show já foi indicado para todos os grandes prêmios da TV norte-americana e ganhou um Globo de Ouro de melhor comédia. A moça tem 28 anos e já fez tudo isso.
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Quando se pensa em uma biografia, logo se avalia as credenciais ou a idade do biografado para saber se a obra merecia ganhar vida. Não é? Bom, Lena já conquistou muito bastante jovem, portanto parece que rende um personagem. Mas, acho que isso não importa. Para me explicar, vou usar uma cena de sua série – não tem como não falar do programa aqui, porém prometo que serão spoilers beeeem de leve, detesto estragar a diversão alheia e espero com eles causar mais interesse e gerar fãs para as meninas.

A personagem de Lena em Girls é baseada nela própria. A dita cuja, Hanna, participa de um workshop literário e seus colegas criticam ferozmente o texto que ela apresentou, argumentando que a história era muito baseada em eventos pessoais. A professora então interrompe e diz: tudo o que entrar nessa sala será tratado como ficção.

O livro de Lena não deve ser julgado como pretensioso por ter sido colocado no mercado como uma autobiografia por uma autora tão jovem, sua idade também não pode ser impeditiva para que um leitor goste ou não dele, nem o fato de que ela seja uma menina, ou uma nova-iorquina, ou tenha uma vida distante da minha – ou da sua. Uma obra é boa por si, ou o inverso. Já li e vi tantas coisas, de tantos autores, de tantas vidas e enredos tão longíquos. Quando via Sex and The City, Seinfeld ou Friends eu não tinha a idade dos personagens. Quando leio Jorge Amado, eu não ando descalça correndo por dunas ou pelos paralelepípedos de Salvador. Digo isso, sim, para rebater certos argumentos que vi por aí.

Leninha na pele de Hanna
lena Dunham

Bom, vamos lá. O inicio da obra já tem um aviso bem claro: sua autora é feminista. Isso, achei muito bom. Corajoso, sem imparcialidade. Trechos que contam como ela já foi subjugada no ambiente dos negócios em Hollywood, por ser uma garota e não um homem maduro e engravatado são muito bons. É muito importante também o fato de que Lena coloca em pauta questões como a quebra dos padrões que são impostos pela mídia e corroborados pela sociedade, de beleza, juventude e sucesso. Não é preciso ter a imagem “certa” para seguir por esta vida. Por outro lado, algumas passagens, que me fizeram questionar se estamos realmente apartadas por uma tênue linha geracional, pareceram por um momento bobas e desinteressantes. Contudo, após ter visto uma maratona de Girls antes do Natal, percebi que não, o problema foi que Lena contou muito de suas experiências já vistas na série. Como quando experimenta cocaína ou consegue emprego em uma loja de roupas infantis. Eu estava lendo Lena ou Hanna? Não sei, tanto faz, mas o problema é a repetição. Afinal, conflitos da juventude, drogas, sexo, festas e desajustes comportamentais são material literário tanto quanto guerras, utopias, realismo fantástico e romances. Ou você vai contestar Fante, Kalvert e Bukowski?

Falta, entretanto, um pouco mais de firmeza na pena de Lena. Alguns assuntos são tratados de forma jogada, pueril. Não pelo tema, e sim pela forma. Foi uma impressão. Nesse ponto sim, talvez, a experiência traga mais valor à sua escrita. Alguns capítulos são rasos, crônicas, descrições dos fatos. Uma linguagem muito própria dos tempos atuais, de blogs e posts de Facebook. Até aí, problema nenhum. Mas, quando Lena deixa de se aprofundar para dar somente pequenas contribuições subjetivas, parece algo muito narcisista, de alguém que não sai da sua casca. Ainda assim, poderia ser uma obra primorosa, a primeira pessoa da narrativa pode ser narcisista, por que não? Só que carece de profundidade, de sofisticação, de desenvolvimento. Se ela fosse mais a fundo em suas próprias amarguras, talvez saísse da pasmaceira e conquistasse um estilo mais sólido. Em alguns capítulos ela chega lá, em outros não. Acho que nas telas ela se sai melhor. No livro, inclusive, ela conta que quis tratar de um assunto de abuso sexual em Girls e os demais produtores disseram, não, isso não é engraçado. Fato que até abriu seus olhos para o ocorrido. Com uma equipe, ela lapida melhor a catarse em arte, talvez?

O veredito é: o livro vale seu tempo. É bom. Três estrelas de cinco. Já a série, quatro e meia. A trilha sonora, cinco (aí embaixo, para você).

Fotos: IMDB e Facebook de GIRLS HBO</>

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