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Sobre consumo e estilo: é hora de desacelerar

Sobre consumo e estilo: é hora de desacelerar

Postado por em ago 10, 2015 em Blog, Consultoria de Estilo, Moda | 0 comentários

Nós gostamos de moda, design, tecnologia, bons produtos que nos sirvam na vida. Mas, toda vez que respondemos se é crédito ou débito, acabamos comprando não só funcionalidade e beleza, mas também valores implícitos, como status, amor (já viu a nova propaganda do iPhone?), conforto, familiaridade, entre tantas outras características e emoções que a publicidade nos vende. Precisamos de tudo isso? Claro! Queremos sentir todas essas e muitas outras coisas, porém não serão produtos, necessariamente, que nos proporcionarão as subjetividades da vida.

E estamos exagerando. Acho que nem é preciso argumentar muito em cima disso. Quem é que já não está com problemas de espaço no guarda-roupa e tem sapatos enfiados lá no fundo da prateleira? Acabam nem sendo usados… Quem nunca doou uma peça ainda com a etiqueta? Ou comprou uma calça esperando perder aqueles dois quilos que nunca foram embora?

Estamos, além de contribuindo para uma economia desenfreada que produz em demasia, com qualidade de descarte, vivendo uma vida que não nos representa. Aquela calça super em conta da loja de fast-fashion passeou por quantos verões com você? É uma roupa que tem a sua cara mesmo? Não seria muito mais coerente e te faria mais feliz ter um guarda-roupa só com peças de qualidade, que você ame, que combinem entre si, te representem, que você vista e se sinta especial, TODA VEZ?

Sim, gente, isso é possível. E faria uma bela diferença na sua postura como consumidor. Pense globalmente e aja localmente, disse John Lennon. Afinal, comprar menos e mais assertivamente, já contribuirá para uma economia mais sustentável, com menos descarte. Ao mesmo tempo, procure gente que faça um trabalho autoral, com matéria-prima de qualidade, que dura um tempão, com design diferenciado, que movimente a economia local. Ah, mas isso custa muito caro. Não, nem sempre, só custa mais que o produto feito com mão de obra explorada em países subdesenvolvidos. E comprando menos e melhor, no final, não se gasta mais. E assim, nós continuamos amantes da moda, do design, da tecnologia, consumidores. Só que conscientes.

Reparem que estou usando a primeira pessoa do plural aqui. Por que, de fato, o contexto atual nos coloca submersos num sistema, numa cultura, em conceitos que estão intrínsicos no nosso dia a dia. Muitas coisas de que precisamos vem de origens duvidosas de produção. Eu sei, não é fácil achar alternativas, mas, com informação, podemos procurar o caminho que nos serve, decidir nossas prioridades. Além disso, vou dar um passo atrás e dizer que as lojas de fast-fashion tiveram – e ainda têm – sua função significativa de democratizar a moda. Deram acesso a um mundo de design que antes era permitido apenas a quem tinha dinheiro. Por que moda, é muito mais que roupa. É expressão visual, memória afetiva, comunicação, integração social, arte, cultura… e todos nós temos algum tipo de relação com ela. Mudar essa relação, é um processo, leva tempo e requer disposição. Não é fácil, portanto, desapegar das fast-fashion. Porém, hoje, sabendo o que implica vender barato, podemos pensar muito bem antes de comprar algo que foi feito por um representante dessa indústria.

Cada um pode buscar o que é essencial para si. E aprendemos naquele emblemático livro infantil, o essencial é invisível aos olhos.

Valorizar um consumo com mais significado não é novidade no mundo da moda, minhas mestras do estilo já têm isso como base para seu método de consultoria, jornalistas já vêm falando do tema há algum tempo. Mas, a empresa de identificação de tendências BOX 1824 fez há poucos dias um vídeo muito bacana que resume de forma genial essa história toda.

Na imprensa, esse movimento de prestar mais atenção ao que se compra, valorizar a origem e os materiais, buscar um design mais autoral, vem sendo chamado de slow fashion (moda lenta, em contraponto ao fast-fashion, ou moda rápida). Já a BOX, ampliou o termo para todo tipo de consumo, chamando-o de lowsumerism (consumo baixo). Aqui, faço uma ressalva: o consumo consciente não é uma “nova tendência”, no sentido passageiro da coisa. As tendências surgem como novos caminhos, que podem se dissolver e se desvirtuar de maneira fugaz ou se consolidar como comportamento estabelecido. Consumir de forma consciente deve ser encarado como um estilo de vida, não como um modismo.

Caso queira saber mais sobre a indústria da moda e o impacto sócio-ambiental que o consumo desenfreado implica, recomendo o documentário The True Cost, disponível no Netflix.

 

*Foto de destaque: The True Cost – reprodução

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